MAIS UM ERRO

Desde que Renato chegou ao Grêmio a mística do futebol parece sobrepujar o bom senso. Ídolo absoluto da história do Grêmio, contra todas as tendências nosso treinador nos encaminhou da zona do rebaixamento à Libertadores numa trajetória indiscutível. Não custa, no entanto, fazer um pouquinho o trabalho racional por aqui para poupar os deuses da bola do trabalho.

Definitivamente, nossa Direção não vai nesse sentido. Depois do fracasso com Ronaldinho e da perda de Jonas, agora vende a preço de banana nosso segundo melhor volante (atrás apenas de Rockembach) para o Corinthians. Por que raios Willian Magrão foi vendido, se é muito superior a Adilson e Fernando, apesar do desempenho brilhante na seleção sub-20, ainda é uma incógnita? Quando teve sequência, Magrão foi um volante excelente: com um belo arranque, bom chute a gol e poder de marcação. Hoje seria titular.

Não dá para entender o que está acontecendo. Não precisamos abusar demais da sorte. Escalar Carlos Alberto tirando o time do eixo não parece recomendável. Gilson é uma nulidade na marcação na lateral-esquerda. No nosso contexto, e considerando que Lúcio está brilhante no meio e Carlos Alberto pouco faz, melhor é mesmo manter a equipe e testar Bruno Collaço ou quiçá Neuton, opção que acho melhor para liberar o ótimo Gabriel do outro lado, na lateral-esquerda. Paulão, o raçudo Paulão, é bom reserva, mas Mário Fernandes (estamos desperdiçando ele, com essa alternância de posições, descrédito e reserva!) e inclusive Vilson são mais seguros. Por fim, por enquanto Borges e André Lima estão bem, mas acho que com o tempo Escudero – que me lembrou ligeiramente Tevez – irá desbancar um deles. Até pouco tempo, via Borges como superior; depois, pelo momento, André Lima inverteu. Hoje Borges está melhor novamente.

Vender Willian Magrão foi nosso terceiro grande erro da temporada. Que seja o último.

MÁS RECORDAÇÕES

Em 2006, o Grêmio formou sua melhor equipe desde 2001, com aquela máquina de 3-5-2 que Tite havia montado e que inclusive inspirou a seleção campeã do mundo (não só porque Felipão montou a equipe no mesmo esquema, como porque inclusive foi eleito pelos internautas como o time que poderia representar o Brasil nas eliminatórias). A equipe formada por um Mano Menezes sem o prestígio que tem hoje (havia cometido erros crassos no ano anterior, dentre os quais colocar Anderson no banco) de repente não apenas encontrou sua formação ideal (potencializando as virtudes de todos os atletas), como foi a primeira a usar, com precisão, o esquema 4-5-1 – usado na Europa sobretudo por José Mourinho – com perfeição no Brasil. Lembremos um pouco aquele time.

Galatto ainda tinha no bolso o lucro do pênalti defendido na Batalha dos Aflitos, embora não passasse a segurança absoluta de, p.ex., um Darnlei ou um Victor. As laterais eram, inquestionavelmente, o ponto fraco: Patrício (que no entanto marcava) e Wellington (um nada e nada mais) ou Anderson Pico (jovem promessa que nunca estourou por falta de disciplina mínima). Na reserva, tínhamos ainda o bom Alessandro, mas Mano prefiria o utilizar no meio-campo (como hoje se usa Lúcio). Mas, fora essas fraquezas, o resto era um time sólido: William e Evaldo eram rochas na zaga (William foi um dos zagueiros que conheci com maior capacidade de tornar qualquer companheiro de defesa eficiente), Jeovânio um leão-de-chácara na frente da área, acompanhado de Lucas, volante extremamente técnico e perfeito para a função. À frente deles, numa linha em que os dois meias extremos ora atuavam como pontas, ora fechavam o meio, Léo Lima, jogando como nunca, e Tcheco, eficientíssimo (e ainda marcava) e Hugo na sua melhor fase. Rômulo fechava razoavelmente o ataque (sem prejudicar, mas como o ponto mais fraco). Coloquem no youtube e vejam a quantidade de GOLAÇOS que essa equipe produziu.

Mas não parava por aí, pois ainda tínhamos um banco que ajudava sempre: Maidana e Pereira para a defesa (que, como Evaldo, jogavam muito com William); SANDRO GOIANO para ser volante (só mesmo Lucas para deixá-lo no banco); Ramón (na época marcando gols) e Rafinha (meia criativo, veloz e arisco) como opções de meias e Herrera como opção no ataque.

O que precisávamos? Simples: dois laterais e um centroavante para ser titulares. Só. De repente dava até para ficar com Patrício e nos contentarmos com um lateral-esquerdo apenas, onde o problema era crônico. Mas o que aconteceu? Odone perdeu 9 jogadores. Não é brincadeira, leitor, foram 9 jogadores: Evaldo, Maidana, Rafinha, Hugo, Léo Lima, Rômulo, Herrera, Wellington e Jeovânio. Desses, digamos que apenas os casos de Wellington (por incompetência) e Léo Lima (por indisciplina) se justifiquem. O resto foi de perdas desastrosas.

Em 2007, como tínhamos um grande técnico, ainda se conseguiu montar a tempo uma boa equipe e fomos longe na Libertadores. Se tivesse sido mantida a base (e, p.ex., trocados Wellington, Léo Lima e Rômulo por Lúcio, Diego Souza e Tuta), talvez tivéssemos batido o Boca na final.

Por que falo disso? Porque Odone parece ir para o mesmo caminho. Apesar de contar com um grande trabalho no ano anterior, desgastou a equipe com o episódio Ronaldinho (que, apesar de canalhice monstruosa da família Assis Moreira, todo mundo concorda deveria ter sido tratado nos bastidores) e agora perde um dos dois principais jogadores, Jonas. Que milagre Renato terá que fazer dessa vez?

É bom lembrar que, depois de encher o saco depois da perda de tantos jogadores, Mano pediu o boné (como lembra o amigo @otaviobinato no twitter). Sem um movimento rápido, as perspectivas são sinistras para o Grêmio de 2011.

DICA PARA DIREÇÃO DO GRÊMIO

Já que provavelmente a ressaca Ronaldinho não passou para a Direção do Grêmio, e ao que parece as ideias estão escassas, tenho a sugestão da grande contratação que encaixaria perfeitamente no time e seria viável: Zé Roberto.

Não há como negar que Ronaldinho cairia bem na equipe, mas provavelmente Renato jogaria com dois meias, como fez no Fluminense (Thiago Neves e Conca), o que sobrecarregaria os volantes (e só temos um volante realmente de peso: Rockembach). Zé Roberto, ao contrário de Ronaldinho, é o perfeito terceiro homem de meio-campo: marca, ataca, tem agressividade e criatividade. É um jogador completo que na última passagem no Brasil teve desempenho espetacular. Além disso, joga com a perna esquerda como Lúcio, o que provocaria poucas mudanças no esquema tático.

Por fim, se o Inter pretende o Zé Roberto do Vasco, inegável que já teríamos inclusive a corneta pronta: compramos o Zé Roberto bom. Direção, pense nisso.